segunda-feira, 22 de junho de 2015

Eliseu Padilha, o ministro "executivo" da articulação política do governo

Eliseu Padilha, o ministro "executivo" da articulação política do governo
No dia 17 de junho, a presença do ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, na comissão especial da redução da maioridade penal, causou surpresa no Plenário 3. Repleto de deputados, a grande maioria alinhada com a bancada BBB (bala, boi e Bíblia) da Câmara, o colegiado tentava votar o relatório que diminui de 18 para 16 anos a idade em que um jovem pode ser julgado como adulto em casos de crimes inafiançáveis. Padilha esteve lá após o vice-presidente Michel Temer receber do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), uma ameaça: ou o PT parava com a obstrução ou a Medida Provisória 670/2015, que reajusta a tabela de Imposto de Renda, não seria votada.

Apesar da surpresa inicial com a presença de Padilha na comissão naquele dia, deputados ouvidos pelo Fato Online reconhecem que a principal função do ministro é esta: resolver os problemas da base no varejo, desde a distribuição de cargos à liberação de emendas, e também cuidar das pequenas desavenças na coalizão governista. Se a coordenação política fosse uma empresa privada, Temer seria o presidente, enquanto o ex-deputado gaúcho, oficialmente ligado à Secretaria de Aviação Civil, o principal executivo. 

Cabe a ele conduzir as negociações que não podem chegar a Temer. Ou até as que o vice-presidente da República não teria tempo para fazer, como tratar diariamente com parlamentares da base, sejam eles vinculados ao baixo clero, grupo de congressistas de baixa expressão, ou até mesmo lideranças importantes dentro do Congresso. Também cabe a ele vir com as soluções de última hora para convencer os governistas mais afastados do Planalto a votar a favor das matérias de interesse. "Ele joga o jogo político porque gosta. Como a presidenta Dilma não gosta de política, ele faz bem essa função", disse o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS).

Capacidade de convencimento

O subchefe de Assuntos Parlamentares da Secretaria de Relações Institucionais do governo, Mozart Vianna, afirma que Padilha tem uma “imensa capacidade de convencimento” na articulação política com os parlamentares. Ele explica que o ministro cuida da parte de governança do órgão e do preenchimento de cargos da estrutura do governo. 

Padilha também é quem recebe diretamente os parlamentares na pasta para ouvir suas demandas, segundo Mozart. Ele esclarece que, ainda que a opinião do ministro seja ouvida e respeitada nas reuniões da articulação política, quem bate o martelo nas decisões é o vice-presidente Michel Temer.

Exemplo recente foi a decisão de liberar as emendas para deputados de primeiro mandato. O corte de quase R$ 70 bilhões no Orçamento 2015 resultou no congelamento de metade do que cada parlamentar teria direito neste ano para obras e investimentos nos estados. Caiu de R$ 16 milhões para R$ 8 milhões. Padilha, então, sugeriu que cada novato no Congresso receba esses R$ 8 milhões. 

No dia 18 de junho, Temer garantiu aos líderes da base a liberação. E Padilha confirmou depois, à imprensa, na saída da reunião política. No mesmo dia, ele participou de uma reunião na bancada do PMDB. Era para fechar os detalhes sobre a votação do projeto de lei que revoga a desoneração da folha salarial de 56 áreas diferentes da economia. Após convencer os peemedebistas a fecharem com o relatório de Leonardo Picciani (PMDB-RJ), ele deu detalhes aos ex-colegas de bancada do que ocorreu. O cálculo feito por Padilha, com aval de Temer, é que, na prática, as emendas para os novatos só serão liberadas, na melhor das hipóteses, em 2016. 

As emendas liberadas neste ano foram aprovadas pelo Congresso em março, durante a discussão do Orçamento 2015. Formalmente já existem, o que deu tempo para prefeitos e governadores apresentarem projetos que vão desde de recapeamento de estradas a construção de postos de saúde. Na prática, falta apenas a liberação do dinheiro. Porém, no caso dos novatos, todo esse processo, passando pelas licitações, estudos etc., ainda nem começou. Ou seja, a articulação política do governo quer apoio agora para votar o ajuste fiscal e outros temas complicados, mas a conta só será paga a partir do ano que vem.


Despacha em quatro lugares diferentes 

Aliados dizem que Padilha sempre foi um homem do partido. Fiel a Temer, cumpre ordens e negocia no varejo como ninguém. É o principal rosto de balcão de negócios aberto pelo Palácio do Planalto para tentar contornar a crise. Pela importância, despacha em quatro locais diferentes. Na Secretaria de Aviação Civil; na vice-presidência; no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente; e na Secretaria de Relações Institucionais, até hoje não extinta por Dilma.

Em 2010, Padilha se alinhou com o PSDB na eleição para presidente da República. Mesmo com o PMDB fazendo parte formalmente da chapa de Dilma Rousseff, ele fez campanha para José Serra. A aproximação com os tucanos não ocorreu à toa. Afinal, ocupou a principal cadeira do Ministério dos Transportes entre 1997 e 2001, durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso. Porém, mesmo com a vinculação tucana, tornou-se o executivo, o número dois, da articulação palaciana. "O PMDB é o governo político", analisou Goergen.

Fonte: Fato Online (www.faotonline.com.br)
Data da publicação: 19/06/2015

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